Mosteiro de Leça do Balio

15-09-2015 11:11
MOSTEIRO DE LEÇA DO BALIo
Origens

Situado no lugar de Recarei, junto ao Rio Leça e a pouca distância da antiga estrada romana que, cruzando o Rio Leça na Ponte da Pedra, unia o Porto a Braga, o Mosteiro de Leça do Balio já existia no séc. X.

Seria nesta época um pequeno cenóbio cuja invocação original era o S. Salvador do Mundo, de fundação modesta, talvez de tipo familiar e destinado a acolher os membros da família patronal, como era comum nesta época. Os seus patronos eram, no séc. X, Trutesendo Osoredes († 995) e sua mulher Unisco Mendes, que pertenciam a uma importante família da antiga nobreza local. O documento mais antigo que se lhe refere data do ano de 1003 e refere-se a uma doação de uma herdade aos frades e freiras da basílica fundada no lugar de Recarei.

Em 1021 Unisco Mendes e o seu filho Osoredo, fazem a doação deste mosteiro a Tudeildo, abade do mosteiro moçárabe da Vacariça, junto a Coimbra. Esta doação marca um período de importante crescimento e prestígio de Leça, sobretudo a partir de 1026, quando Tudeildo aqui se refugia das incursões muçulmanas.

Desta época e da igreja pré-românica que terá sido erguida no tempo do abade Tudeildo ainda são visíveis, dispersos pelo espaço exterior, alguns dos seus elementos construtivos.

Os cavaleiros do Hospital e a Comenda de Leça

No séc. XII D. Teresa faz doação do mosteiro à ordem militar-religiosa dos Cavaleiros Hospitalários, que aqui vão fazer a sua primeira casa-mãe em território português. Esta doação que marca a entrada desta ordem em Portugal é tradicionalmente referida como tendo ocorrido entre 1112 e 1116, uma vez que não é conhecido o documento que comprova a primeira doação. Outros autores apontam também como datas mais prováveis da entrada dos primeiros cavaleiros desta ordem no território portucalense o período entre 1122 e 1128.

Em 1140 D. Afonso Henriques amplia a doação feita por sua mãe concedendo ao mosteiro, através da Carta de Couto, a jurisdição sobre um território alargado que abrangia as paróquias de Leça, Custóias, Barreiros, Gueifães e S. Mamede.

Fundada no contexto do espírito de Cruzada e de Guerra Santa, a Ordem do Hospital era uma organização internacional dependente directamente do Papa e cuja principal missão era proteger e prestar assistência aos peregrinos assim como participar nas incursões militares contra os muçulmanos.

Devido à sua localização geográfica privilegiada o Mosteiro de Leça está ligado a alguns dos momentos mais significativos da História de Portugal. Por aqui passaram reis e rainhas, como Afonso Henriques e Sancho I. Aqui se albergou a rainha Santa Mafalda assim como o condestável Nuno Álvares Pereira. Neste local se celebrou ainda o casamento entre o rei Fernando I e Leonor Teles que aqui se celebrou em 1372. Desempenhou ainda um importante papel na assistência aos peregrinos que demandavam o túmulo do apóstolo Santiago em Compostela.

Com a abolição do Baliado de Leça, em 1834, na sequência da extinção das ordens religiosas em Portugal, o mosteiro, à excepção da igreja, foi abandonado e vendido em hasta pública, caindo numa profunda ruína. Já no séc. XX passou para a posse do Engº Ezequiel de Campos que promoveu profundos trabalhos de restauro e remodelação. Apesar disso, é ainda possível identificar, na quinta situada junto à igreja, um conjunto significativo de elementos arquitectónicos pertencentes à estrutura do antigo mosteiro gótico.
 
A Igreja do Mosteiro

A estrutura gótica do monumento remonta às obras de remodelação e ampliação efectuadas no séc. XIV por iniciativa do Balio D. Frei Estevão Vasques de Pimentel.

Do mosteiro resta apenas a igreja, de planta cruciforme, ladeada por uma alta torre quadrangular, provida de balcões com matacães, a meia altura e no topo, em ângulo, seteiras, dando à igreja um aspecto de verdadeira fortaleza militar.

Segundo as descrições anteriores às demolições efectuadas em 1844, o edifício conventual desenvolvia-se para o lado sul da igreja. A porta lateral sul serviria assim de ligação principal entre a igreja e o restante complexo conventual. Rodeado por uma forte muralha disporia ainda, segundo as testemunhas, de mais três torres para além da existente. Os vestígios de uma destas torres são ainda visíveis na “Quinta do Mosteiro” junto à cabeceira da igreja. A ligação entre os dois edifícios desapareceu na sequência das demolições realizadas na década de 30’ do séc. XX.

No seu interior destaca-se, sobre a campa de Frei Estevão Vasques, uma placa de bronze, com diversos motivos decorativos e contendo o epitáfio do defunto em caracteres leoneses. Outros motivos de interesse são as obras de Diogo Pires, o Moço (séc. XVI) nomeadamente a pia baptismal, o túmulo de Frei João Coelho e o cruzeiro localizado no exterior do mosteiro.

Está classificado como Monumento Nacional pelo Decreto de 16.06.1910 DG 136 de 23 de Junho de 1910.